Realmente os alunos de hoje sofrem da falta de resistência ao insucesso, falta de resistência à frustração, ou simplesmente falando MAU PERDER. Muita gente diz que são mimados e mal educados (o qe não deixa de ser verdade)... Mas eu tenho alunos que não sabem o que é um carinho, que não sabem o que é uma chantagem emocional, nem como a usar - afinal, o maior objectivo de uma birra é ter o sucesso mediante uma adversidade., baseando-se na chantagem, seja emocional, seja social ("Estás a dar mau aspecto à frente destas pessoas."). Nada disso.
As birras que tenho presenciado, são mesmo atitudes de abandonar o que lhe fez sentir-se derrotado e pronto. Acabou ali. Não espera que alguém o compense, muitas vezes nem reparam que alguém notou. Admirável mesmo. Fechados na sua frustração.
Dizem-me que quando eu era criança fazia birras e tinha ataques de raiva. Com muito pouca diplomacia e muita força de braço (e de outros "argumentos"), os meus pais tiraram-me essas atitudes. Não porque eu tivesse deixado de ser como era, mas simplesmente, tinha ganho a noção que aquelas atitudes tinham consequências... E normalmente negativas para o meu "bem estar". Hehehe.
Isso ficou-me até aos dias de hoje. Hoje quando tenho vontade de "alisar o lombo" a alguém ou ter algum arrufe mais "orgânico" e "sincero", penso antes. Não por medo que os meus pais me repreendam, mas porque sei que socialmente certas atitudes têm resultado. Muito como deve acontecer a qualquer GNR que tente sacar da pistola em situação de perigo eminente. Não vá um Juiz qualquer dizer que ele não tinha razão em fazê-lo.
E os alunos, estão exactamente o contrário disso...
Respondem como querem, porque não há consequências;
Fazem as coisas sem pensar, porque não há consequências;
Tratam mal as pessoas, porque não há consequências;
Abandonam tarefas escolares a meio, porque não há consequências.
Quando nós jogávamos computador (o velho ZXSpectrum), já sabíamos que, se desligasse o pc não conseguiria voltar aquele nível por isso, usufruía ao máximo, lutava ao máximo para continuar a minha evolução até à exaustão.
Na actual Geração PlayStation, nunca há problemas porque há muitos sítios onde fazer um "savegame"... E em ultimo caso, na internet já existem os Cheat Codes, que as próprias empresas programadoras de jogos criam para qualquer jogador que queira vender o jogo sem precisar de se esforçar.
Falo muito com os meus alunos sobre isso. A forma como um jogo é criado para puxar pelas pessoas, pelo vício natural de qualquer jogador. O progresso apetecível, difícil mas suficientemente apetecível para continuar em jogo... A arma poderosa que aparece quase ao mesmo tempo que os inimigos aumentam de número. O poder mágico que nos permite ultrapassar exactamente aquele desafio impossível de passar sem esse poder. Entre tantas outras situações que qualquer jogador sabe identificar.
Vivemos num mundo governado por pessoas inteligentes, sentadas a uma mesa, a criar episódios para os outros viverem.
E quando o jogo já fartou e nem os cheats fazem voltar o gosto pelo desafio... Troca-se de CD e começa-se com outro jogo, outro desafio descartável.
Na sala de aula não pode ser assim...
Não dá para mudar o CD da disciplina de Matemática e só colocar o CD de Estudo do Meio ou Português. É aqui que reside o problema: O conflito entre a Escola e a sociedade; entre a Escola e aquilo que a se pode fazer em casa; entre o Zapping e o Canal Único. A obrigatoriedade que pesa sobre o Professor, com provas, com avaliações e pressões, e o que se pode fazer na PlayStation, sem pressões, sem testes, sem vergonhas nem insucessos, sem ter de ficar ali da hora X à hora Y.
Mas algo tem de ser feito, e não acredito que seja a Educação e os Professores que tenham de mudar. "Vamos ser como as crianças querem. Vamos mudar de assunto sempre que eles nos mandarem, nem que seja 25 segundos em cada matéria.", isto só daria razão a um texto que li entitulado "PEQUENOS DITADORES".
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