terça-feira, 25 de setembro de 2018

Carta de desabafo

Tenho lido muita coisa da batalha entre o Governo eleito e os Sindicatos de Professores sobre os direitos dos Professores, retirados ou congelados pelo Governo de José Sócrates. Mas não me vou meter pelos caminhos tortuosos, dos juízos de valor, sobre o próprio José Sócrates e o seu direito, hombridade e edonidade para congelar os direitos seja de quem for.

Fui sindicalizado, antes ainda de ser trabalhador. Inscrevi-me num Sindicato (que não acho necessário referir), no inicio do meu ultimo ano do curso (lá pelos anos 1996/1997), ainda nem recebia ordenado. Depois comecei a trabalhar e estive assim durante 10anos... fui a congressos e comícios, fui Dirigente e Delegado Sindical, sem nunca ter faltado às minhas funções de Docente para desempenhar as minhas funções de "sindicalista".

Entretanto DESISTI, quando me disseram: "Não te preocupes com o congelamento... é temporário."

Durante os 9anos que o Governo Sócrates me congelou:
- Fui Coordenador de Estabelecimento;
- Fui Coordenador de Departamento;
- Fui Professor de PIEF;
- Lecionei todos esses anos;
- Gastei gasóleo todos esses meses (durante anos fazia mais de 140kms/dia);
- Paguei portagens todos os dias;
- Tive sonhos que fui construindo e congelando, à espera de dias melhores;
- Ajudei Polícia a algemar ex-alunos PIEF (largados na rua, quando o Projeto acabou);
- Fiz frente a adultos ciganos, defendendo crianças africanas;
- Fui perseguido por esses adultos e amigos, desprotegido da Lei Portuguesa;
- Fui a tribunal testemunhar tudo o vi e que fiz;
- Transitei alunos e reprovei alunos, faltei o mínimo e muitas vezes fui trabalhar doente;
- dos 20 anos que vivi e trabalhei... eles só querem contar 10anos e uns meses...

É por tudo isto que se luta e que se pede o descongelamento.
Por favor, se perceberam, partilhem ou então expliquem a quem tem dúvidas, sobre qual a razão da luta dos Professores e não se percam na avaliação do outro Sindicalista que trabalhou 10anos e sindicalizou 22anos... porque enquanto ele faz isso... um ex-1º-ministro que provocou tudo isto, recebeu dinheiro duvidoso e ainda hoje tem direito de antena nos midia.

Abraço

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Liderança pelo Exemplo

Já desde o tempo de Salazar que o Povo Português deixou de ter um exemplo de liderança politica, como algo que era constituído por uma imagem de Verdade, Coragem, Capacidade e... Exemplo. Se fazia parte da propaganda ou não, pouco interessa, o que interessa é que as pessoas olhavam para os seus lideres com uns olhos que hoje em dia, nos nossos políticos, vemos tudo MENOS ISSO. Notava-se uma preocupação em que qualquer líder tinha de ser um exemplo de "Pai da Nação" e assim se regiam até mesmo os lares familiares.

Também nas escolas Portuguesas se seguiam esses exemplos... As próprias localidades tinham um Padre, um Professor (normalmente Srª Professora) e mais um ou outro magistrado que seriam as Autoridades imaculadas daquela localidade. Nos tempos antigos, era uma vergonha se um Líder fosse encontrado em falta, ou a mentir, ou a enganar fosse quem fosse. Entrava em desgraça porque mais ninguém acreditaria nele e, naquele tempo, a PALAVRA era muitas vezes a única e mais importante riqueza que qualquer um poderia ter. Podia até namorar com a sobrinha do padre e ser casado, mas todas a gente sabia e não precisava de mentir... enfim. Entra o 25 de Abril, e cedo se começa com a aceitação de uma mentirazinha aqui, recebe-se um perdãozinho ali, e a situação foi crescendo:
- A ponte Salazar afinal era 25 de Abril e toda a gente aceitou... ou era fascista também
- Os livros da propaganda terão de ser queimados e toda a gente aceitou... ou então era fascista também.
- Criaram-se as frases feitas e fáceis de decorar: "Fascismo nunca mais.", "O Povo é sereno.", "Queres Salazar vai ter com ele...", "Passei muita fome durante a Ditadura... mas nasci em 76.", etc etc etc.
Todas estas evoluções socais e culturais, foram crescendo até chegarmos ao "Método Socrático" de fazer politica... mas disto não quero falar... HOJE.


Entretanto, na Educação, criaram-se os Directores para assumir a "divina" tarefa de comandar os Agrupamentos de Escolas. Agrupamentos esses que entretanto deixaram de ser constituidos por Conselhos Executivos em que toda uma equipa assumia responsabilidades mas passou a ser uma só pessoa a ter a noção de que a responsabilidade do que corresse mal seria exclusivamente sua. Isto leva-os a não confiar nos seus subalternos, a não delegar tarefas e a concentrar em si a maioria das tarefas... Logo aqui, o que resulta é uma total INCAPACIDADE, INCUMPRIMENTO, INSUCESSO, INSTABILIDADE, etc. Para além disso, nem sempre um Director se faz rodear pelos mais cumpridores e mais competentes, mas sim pelos "lambe botas" e pelos "obedientes sem opinião", mais um prego no caixão desta forma de liderança.


Há uns anos atrás, depois de algumas experiências como "Líder" e de muitas mais experiências como "Liderado", decidi debruçar-me sobre isso e escrever algo que achei interessante:

- Primeiro no texto de O a-b-c-do-bom-coordenador de 15 de Janeiro de 2010

- E mais tarde no texto Não-ter-perfil-para-o-cargo, já em 2015 mediante a observação de novos factos.


A minha forma de pensar limita-se à ideia que um Líder deve saber liderar e não saber mandar, concentrando em si todas as tarefas, e depois não conseguindo cumprir nenhumas decentemente:
- Não deve pressionar os seus subalternos a cumprirem aquilo que ele próprio não está a conseguir fazer cumprir. Mais do que ser competente a fazer as coisas, um líder deve saber dar o exemplo e inspirar os seus subalternos a darem o melhor de si.
- Deve libertar os seus companheiros/subalternos para que cumpram as suas tarefas com segurança no que estão a fazer, com meio palmo de testa para pensarem no resultado final e assim poderem defender as suas decisões e tomá-las em consciência.
- Delegar neles tarefas que o ajudem a ter sucesso nas suas funções. Pensar antecipadamente nas situação que precisam de ser preparadas e não funcionar só à base do momento presente, que só vai causar pressão, pressa e descontentamento nas pessoas, culminando em maus resultados finais.

Mas sobretudo e talvez seja a mais importante das preocupação... nunca, mas NUNCA, recorrer à mentira para se desculpar e para justificar as suas atitudes. Os Bancos mentem, os Políticos mentem, os Imobiliários mentem..


A MENTIRA está tão entrosada na nossa sociedade, que quando nasce com pénis, a criança já vem a dizer que é menina e que tem direito a mudar de sexo... mas isso, é assunto para outro dia.

domingo, 23 de julho de 2017

Vira-se uma página com mais de 15 anos

Estávamos em setembro de 2001, numa altura em que "Setembro" ainda se escrevia com "S" maiúsculo e "Ano Lectivo" ainda tinha o velho "C" da nossa herança latina. Eu já tinha passado por duas experiências de vida como Professor: uma a nível de 2.º ciclo como Professor de E.V.T. (Educação Visual e Tecnológica) e outra a nível de 1.º ciclo como Professor de Apoio Educativo no Agrupamento Vale do Sorraia, uma colocação resultante de uma permuta com outra docente, que me pediu encarecidamente que trocasse com ela... afinal, ela já tinha estado naquela escola e não queria lá voltar (já comecei bem). Com o tempo e o decorrer do ano, vim a perceber, que naquela escola tinha havido uma Professora a agredir outra Professora, em frente à turma, acontecimento que levou a uma Inspeção... naquela altura chamava-se Inspecção... a qual eu tive de suportar, mesmo não sabendo de nada, nem tinha a ver comigo e logo perdi a minha "virgindade" no contacto com Inspectores da IGEC. Curiosamente uma coisa que se tornou hábito na maioria dos anos que se seguiram.

Chegou o momento de saber as nossas colocações e eu começo logo por receber a feliz noticia de ter ficado no Quadro de Zona Pedagógica de Lisboa... logo numa escola que eu nunca tinha ouvido falar, mas que ficava lá para os lados de Loures. Uma aldeizinha chamada de Apelação. Um local protegido da lepra que assolava Lisboa, durante o reinado de D.Fernando, acontecimento graças ao qual ganhou o nome de "Apelação", por ter sido ouvido o apelo ao divino feito pela população.

Não haviam smartphones com GPS e perto de anoitecer, meti-me à estrada na velhinha StarVan1.8D branca comercial, comprada às pressas em 6ªmão com 180.000kms (certamente imaginários), por causa da necessidade de um carro a Diesel para me levar para as escolas. O velhinho Corolla DX 12valve, não merecia sofrer aquele esforço todo, sobretudo com o investimento no Tuning & CarAudio que lá tinha dentro.

Começo bem a minha chegada à Apelação, logo atravessando o bairro da Quinta da Fonte por engano, com uma grande maioria dos seus habitantes à porta dos cafés ou vagueando pelas ruas... nem sabia que, naquele tempo, não era normal nem aconselhável um estranho, branco, passar pelo bairro de noite sem consequências. Chegado à escola, faço o reconhecimento do terreno, para descobrir qual o melhor caminho de volta à A1.

- "Amanhã virei para aqui." - era a frase que mais me varria os restantes pensamentos da mente.
Não sabia o que me esperava, mas depois de lidar com o que eu tinha lidado na Azervadinha de Coruche, achava-me pronto para qualquer coisa, qualquer turma, qualquer desafio... estava tão enganado.

(continua)

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Reativação do BLOG

Olá leitor:
Durante muitos anos pensei que poderia criar um blog com o objetivo de largar os meus pensamentos e desenhos, imortalizando-os da forma mais simples, através da internet. Não interessa se alguém lê, só interessa que estejam arquivados num local público em vez de ser fechados num caderno, como sempre estiveram. 

Objetivamente um blog só é bom conforme a quantidade de pessoas que o lerem, não importa ter belos escritos e belas bandas desenhadas se ninguém as ler. Mas essa não será a minha prioridade.


Por outro lado, durante muitos anos da minha vida, tive várias festas de casamentos, vários jantares, várias rodas de amigos em que passei horas a contar histórias que vivi ao longo da minha profissão e notava na atenção de quem me ouvia, e não mês desfazendo, ter episódios que metem "desarme de pistola", "desarme de ponta-e-mola", "apanhar mesas no ar, arremeçadas por alunos", entre tantas outras, não são coisas que se devam deitar fora e enterrar na memória de um único mortal.

E então assim foi, decidi reavivar este Blog, com meus episódios... aquele Livro que nunca escrevi, a Árvores que nunca plantei, ou o Filho que nunca tive (que eu saiba).

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Desabafo do Dia: "O ESTADO A QUE EU CHEGUEI"

(Desde já começo por afirmar, que este BLOG não é contemplado pelo Acordo Ortográfico, com o qual não concordo... e como o BLOG é meu, escreve da forma que acho melhor).


 Há dias que realmente os pensamentos se perdem em eternos momentos de "visão de passarinho". Eu chamo "visão de passarinho", àqueles momentos em que saímos do nosso próprio corpo e observamos a nossa vida e a vida daqueles que nos rodeiam, ficando com uma visão de 3ª pessoa do "estado em que estamos" ou como o titulo indica "O estado a que EU cheguei".

- ALUNOS:
Olho os alunos e vejo a diferença dos alunos assustadiços, de olhos esbugalhados desejoso de aprender, que tive em tempos, aqueles que bastaria falar um pouco mais alto para ter reacções de medo ou de silêncio total e absoluto, durante um dia inteiro (claro que me estou a referir a  altura em que "um dia inteiro" significava 5 horas lectivas, durante 5 dias seguidos, coisa que já não se passa hoje em dia, em que "um dia inteiro" pode significar 4 horas letivas ou 6 horas lectivas, conforme as necessidades de satisfazer as Actividades de Enriquecimento Curricular). Hoje temos alunos que tão depressa conseguem ser os mais infantis com que alguma vez contactei, como podem demonstrar atitudes dignas de adultos desequilibrados, muito mal amados e frustrados. Crianças que não se preocupam se estragaram o carregador do telemóvel, alias, alunos que já tem o seu telemóvel próprio (smartphone para ser exacto), que já "o perderam diversas vezes, mas que o Pai compra outro"; alunos que já usufruem do seu tablet próprio que já "o avariaram algumas vezes, ou a jogar ou por cair, mas os pais mandaram arranjar ou compraram outro". Contudo quando chega a hora do lanche, a fome e o desespero para comer é igual a tantos outros que tinham de esperar até chegar à escola, para ter o direito de comer. Quando OUSO chamar-lhes a atenção, sou desarmado com uma resposta de "é normal" ou "é na boa" ou "não tem problema nenhum é mesmo assim". E quando não entramos no dialogo sobre o que "é normal", entramos na eterna palavra/desculpa "Esqueci-me"... mas um "Esqueci-me" tão normal e tão básico, tão sem arrependimento, que me sinto tremendamente parvo (pequenino), por me preocupar ou por me sentir com a consciência pesada, por ocasionalmente me esquecer de alguma coisa... AFINAL ISTO É O NORMAL!
 E enquanto escrevia sobre os ALUNOS, surgiu-me o tema das AECs., as tais actividades que foram inventadas para satisfazer as "necessidades" das crianças de terem mais Enriquecimento do seu curriculum.

- ACTIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR: 
Estas são as "actividades", que raramente conseguem 100% dos docentes para as leccionar  logo no inicio do ano lectivo, obrigando as escolas a providenciar alternativas para "entreter" as crianças durante aquelas horas em que deveriam estar a ter AECs. Obviamente a alternativa foi que distribuir os alunos pelos docentes titular de turma... Aqueles que NÃO FALTAM, aqueles que CUMPREM, aqueles que são colocados DESDE INICIO DO ANO, aqueles que já terão a turma que lhes foi destacada, em suma, aquele que vão receber os alunos distribuídos por haver falta de Professores de AECs e assim vão prejudicar a turma da qual são responsáveis. Mas depois de tantos anos a permanecer neste erro, se conclui que, ISTO É O NORMAL!   

- OS PROFESSOR:
"Ai os Professores, os Professores!"
"Esses Imortais, esses Imortais!"
As verdadeiras vitimas desta sociedade. Aqueles que no tempo do ESTADO NOVO eram a única fonte de comunicação e de informação que chegava às aldeias e que, juntamente com o Padre e com o Alcaide, eram as autoridades daquelas localidades. Muitas vezes justamente acusados de abusos e outras vezes injustamente acusados de tudo e de nada. Entretanto acaba-se o ESTADO NOVO e começam as teorias da Educação do PÓS-25 de ABRIL... Até ao ponto a que chegámos, com os eternos avanços e recuos, por um lado tenta-se imitar países evoluídos mas depois não se acompanham estes testes e estas "evoluções" noutros departamentos da sociedade. Depois querem que resulte. Hoje, temos Professores a gladiam-se entre si, para demonstrar os seus galardões e as suas experiências ou sucessos passados, perante a constante comparação de resultados e a constante avaliação e escrutínio do qual somos vitimas, sobretudo quando se comparam turmas diferentes, alunos diferentes de contextos diferentes e os colocam sob a mesma bitola. E agora eu pergunto: "Acham que ISTO É NORMAL?" 

- O CANSAÇO:
Finalmente chegamos à última parte da minha observação. Como é óbvio, a vida não estaria completa se não nos incluíssemos na sua observação. Podemos ver os outros, podemos ver o que os outros vêem, mas temos de nos ver lá dentro e observar qual a nossa função e como nos comportamos. No meu caso, até tenho medo de pensar e de falar do que sinto todos os dias, a começar pela forma como estou a fazer este texto. Antigamente raramente precisava dos meus óculos de 0,25 dioptrias, fosse para o que fosse. Hoje em dia, esses óculos quase imprescindíveis para escrever em computador ou ver televisão e ocasionalmente substituídos por uns de 1,00 dioptrias para teclar este documento ou para escrever qualquer outro documento à mão. Mas não é só deste cansaço ocular que vou ter de falar, tenho de o acumular com o cansaço físico e mental, a decepção das opções que foram tomadas durante anos, que me trouxe ao ESTADO A QUE EU CHEGUEI. Dificilmente me vou reformar com a vitalidade com que o meu pai o fez, dificilmente vou ter cabeça para manter a evolução pessoal que ambicionei, dificilmente terei capacidade para continuar com este ritmo e com este nível de esforço, algo que estranhamente tem aumentado gradualmente conforme vou "progredindo" na vida. Já nem sei se "progredindo" será o melhor verbo a utilizar. Estou cansado, desgastado, frustrado, a precisar de férias constantemente, a auferir um ordenado cada vez menor, congelado numa carreira e numa perda de direitos adquiridos que já ronda os 600€ mensais, sem plano "B" nem plano de fuga, só a tolerância e a resiliência vão prevalecendo, até quando... enquanto conseguir.
Para todos os efeitos, quando falo com outros Professores respondem-me "ISSO É NORMAL, PORQUE EU ESTOU IGUAL!"

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