Hoje, enquanto ia ao carro buscar umas coisas, aproveitei
para levar as minhas calças de treino de KravMaga (as únicas em bom estado de
se apresentar na rua), e cruzei-me com um vizinho que saia da sua carrinha (a
fazer publicidade da escola de Capoeira onde ele ensina), e mais abaixo
cruzo-me com um moço brasileiro que anda sempre com as suas tshirts de Jiu-jitsu.
Tudo isto fez-me pensar, ao ponto de montar na minha mente
mais uma divagação suficientemente elaborada para “Bloggar”, quase sem precisar
de esforço.
No local onde leciono, tenho alunos que praticam Artes
Marciais (Jiu-jitsu, Taekwondo e Capoeira), tenho alunos que são simplesmente
Rufias e que só sabem bater, tenho os que tentam aprender o máximo de cada um
(criando o estatuto de “Aluno Beta”, como já falei em tempos), e temos todos os
outros alunos “vítima” ou “Omega”.
No meu tempo de juventude, tínhamos o Mestre de Karaté
(Wado-Ryu), que chegou à localidade com outro Mestre (que mais tarde veio a ser
o meu mestre de Wado-Kai), e que começam a ensinar o “KARATE” à criancinhas da
localidade. Primeiro no INATEL, mais tarde na CASA DO POVO e por fim na SOCIEDADE
FILARMONICA CARTAXENSE… foi assim durante anos. Inclusivamente, tive amigos
meus que foram até ao Cinturão Negro e outros Castanho tendo começado já depois
de eu sair (por desistência). Já naquela altura eu tinha curiosidade em experimentar, mas
não havia mais nada por aqueles lados, a não ser a oferta de aulas de Karaté
(era isso ou danças de salão, hehehe).
Passaram estes anos todos e para além do Karaté Wado-Ryu, do
Karaté Wado-Kai (um no Cartaxo e outro em Santarém), da Capoeira, do MuayThai, do
KravMaga e um ou outro seminário em Keyshi, as ofertas ficaram cada vez mais à
mostra (e só não testei Jiu-jitsu porque o kimono era muito caro e não
compensava, se a ideia era só experimentar e perceber as bases).
Após todas estas décadas que se passaram deste o tempo em
que tentava fazer a espargata como o VanDamme, fazer alongamentos de costas
como o BruceLee, ter o estilo de serenidade do ChuckNorris e a posição de
combate do SteveSegal, agora temos qualquer individuo (com boa ou má índole), a
saber qualquer coisa sobre Artes Marciais:
- O Assaltante que saiba Artes Marciais, já fica a saber que a arma mais
perigosa/poderosa fica para trás, e para a frente só vai o braço mais “fraco”,
mantendo-se o máximo possível a longa distância da Vitima;
- O Assaltado já sabe que tem de manter a calma, parecer
inofensivo e pacífico, para esperar o melhor momento de surpreender o seu
atacante e impedir a concretização do acto;
- Qualquer Agente da Autoridade que vá resolver uma situação
fica cada vez mais ciente que a pessoa que vai algemar, pode saber reverter um
ArmLock e coloca-lo numa posição complicada de resolver;
- E as crianças, cada vez mais vão testando as suas
capacidades umas nas outras… Porque a quantidade de DOJOS e de ESCOLAS e de
GINÁSIOS (onde uma Arte Marcial vai de oferta, na compra de “X” horas de
musculação e de cardio), que não
significa propriamente que está a ser feito pela pessoa com a melhor Filosofia
de vida, nem a melhor Capacidade e Experiência, que um mero “diploma” adquirido
de outro “diplomado” que fez uma formação no sitio “Y” que lhe deu o direito a “diplomar”
outros, pior do que isso, POR DINHEIRO e como meio de SUBSISTÊNCIA. Acaba-se aquela ideia romântica do Miyagi, que só ensinava a QUEM ele achava que merecesse e a QUEM ele achasse que precisasse (e como pagamento tinha o carro encerado e o chão afagado).
Basta abrir o Youtube e ver o que anda por aí a ser vendido.
Que aos olhos das pessoas inexperientes e sem noção do que é a realidade nas
ruas, pensa que realmente as coisas acontecem assim… Se por um lado, temos
muitas Artes Marciais, mais variadas e com mais Escolas, por outro lado, temos
mais charlatanices, mais gato-por-lebre, a ensinar coisas perigosas a pessoas perigosas,
ao mesmo tempo que ensina fantochadas as pessoas crentes.