domingo, 23 de julho de 2017

Vira-se uma página com mais de 15 anos

Estávamos em setembro de 2001, numa altura em que "Setembro" ainda se escrevia com "S" maiúsculo e "Ano Lectivo" ainda tinha o velho "C" da nossa herança latina. Eu já tinha passado por duas experiências de vida como Professor: uma a nível de 2.º ciclo como Professor de E.V.T. (Educação Visual e Tecnológica) e outra a nível de 1.º ciclo como Professor de Apoio Educativo no Agrupamento Vale do Sorraia, uma colocação resultante de uma permuta com outra docente, que me pediu encarecidamente que trocasse com ela... afinal, ela já tinha estado naquela escola e não queria lá voltar (já comecei bem). Com o tempo e o decorrer do ano, vim a perceber, que naquela escola tinha havido uma Professora a agredir outra Professora, em frente à turma, acontecimento que levou a uma Inspeção... naquela altura chamava-se Inspecção... a qual eu tive de suportar, mesmo não sabendo de nada, nem tinha a ver comigo e logo perdi a minha "virgindade" no contacto com Inspectores da IGEC. Curiosamente uma coisa que se tornou hábito na maioria dos anos que se seguiram.

Chegou o momento de saber as nossas colocações e eu começo logo por receber a feliz noticia de ter ficado no Quadro de Zona Pedagógica de Lisboa... logo numa escola que eu nunca tinha ouvido falar, mas que ficava lá para os lados de Loures. Uma aldeizinha chamada de Apelação. Um local protegido da lepra que assolava Lisboa, durante o reinado de D.Fernando, acontecimento graças ao qual ganhou o nome de "Apelação", por ter sido ouvido o apelo ao divino feito pela população.

Não haviam smartphones com GPS e perto de anoitecer, meti-me à estrada na velhinha StarVan1.8D branca comercial, comprada às pressas em 6ªmão com 180.000kms (certamente imaginários), por causa da necessidade de um carro a Diesel para me levar para as escolas. O velhinho Corolla DX 12valve, não merecia sofrer aquele esforço todo, sobretudo com o investimento no Tuning & CarAudio que lá tinha dentro.

Começo bem a minha chegada à Apelação, logo atravessando o bairro da Quinta da Fonte por engano, com uma grande maioria dos seus habitantes à porta dos cafés ou vagueando pelas ruas... nem sabia que, naquele tempo, não era normal nem aconselhável um estranho, branco, passar pelo bairro de noite sem consequências. Chegado à escola, faço o reconhecimento do terreno, para descobrir qual o melhor caminho de volta à A1.

- "Amanhã virei para aqui." - era a frase que mais me varria os restantes pensamentos da mente.
Não sabia o que me esperava, mas depois de lidar com o que eu tinha lidado na Azervadinha de Coruche, achava-me pronto para qualquer coisa, qualquer turma, qualquer desafio... estava tão enganado.

(continua)

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